segunda-feira, 1 de junho de 2009

A passos trocados com a identidade...

Ter um filho é das melhores experiências que uma alma pode experimentar numa vida, mas é também dos momentos mais assustadores que existem. Principalmente quando a alma não está pronta a confrontar-se com a instabilidade permanente do mundo e das mudanças definitivas que vão surgindo e roubando aquela sensação de bem estar que perdura sempre mais um pouco. Depois de sermos mães, nada perdura. É-nos ensinado que os momentos são para se passarem e se viverem naquele mesmo instante.
Agora, a poucos dias de ser mãe, o sentimento que predomina é de um amor infindável misturado com a maior tristeza e impotência que um ser humano pode sentir. É um grande desafio para a identidade da mulher, principalmente para ela, cujas hormonas traem pensamentos e aniquilam quem somos por muito tempo, sem qualquer possibilidade de defesa. A defesa pode vir do apoio do companheiro, mas que sabemos que nem sempre existe. Ainda não percebi onde a natureza é justa... Porque onde ela é justa, tudo o resto no mundo terreno não o é certamente.
Sentimos o bebé a mexer aqui dentro de nós, sentimos que a nossa vida parou para nos dedicarmos a eles, porque são e vão ser tudo na nossa vida. Mas há uma proposta do universo para nós, muito mais intensa para quem gera um outro ser - conseguir amar sem se apegar a ele! E fazer isso, sabendo que por tantos meses fez parte na nossa carne e misturou a sua alma com a nossa num mesmo corpo.
Já apetece chorar tanto e dizem que o pós-parto é bem pior! Não sei bem como amar o meu bebé à distância daqui para a frente. Porque eu sei que ele em nada me pertence, mas ao mesmo tempo já fomos um só e eu tenho medo de me apegar demais aos sorrisos do meu filho. Viver somente em função disso e que, talvez um dia, até tenha de os ver de longe... Pois nunca saberei o que o destino nos reserva a mim a ao meu bebé. Nunca saberei se um dia a justiça irá tira-lo de mim e entrega-lo ao pai, por coisas banais terrenas como por vezes vemos nas notícias. Por um ter mais dinheiro que o outro ou por ser mais influente e menos sensível, e por isso menos sujeito a depressões e manipulações psicológicas.
Hoje em dia faz-se muito parecer aos olhos dos outros que a sensibilidade extrema é uma depressão que faz de alguém incapaz de ter uma vida estável e tomar conta de um filho. Em vez disso, opta-se por olhar para a estabilidade financeira de alguém e saúde psíquica, mesmo que de laços afectivos com o mundo tenha poucos. (- Resta então definir o que se entende por saúde psíquica...) A criança não tem direito a decidir nada, porque ela escolheria pelo amor e não é isso que se quer, que se pretende que aprendam...
Vemos na TV a toda a hora, pessoas que tão pouco amor mostraram pelos filhos, e depois deles gerados e passados os primeiros anos em que dão trabalho e ninguém os quer, lembrarem-se de que são pais e têm direitos. Os pais têm direito de amar! Nem sequer é dever, é um direito de que muitos nem se apercebem e encaram como dever. O meu coração é triste, porque vejo crianças serem usadas como arma entre os casais para se atingir um ao outro e tenho medo dessa realidade. Se o amor que devia de existir não existe, deixem-se os filhos com quem os gerou e suportou sofrimento por eles. Porque isso é amor no sentido mais puro... Ou então que sejam as crianças a escolher, porque isso une mais do que qualquer lei!
Lembrem-se os tribunais que são estas mesmas crianças que escolhem o ventre de onde vão nascer. Tudo o resto é desequilíbrio provocado.