segunda-feira, 1 de junho de 2009

A passos trocados com a identidade...

Ter um filho é das melhores experiências que uma alma pode experimentar numa vida, mas é também dos momentos mais assustadores que existem. Principalmente quando a alma não está pronta a confrontar-se com a instabilidade permanente do mundo e das mudanças definitivas que vão surgindo e roubando aquela sensação de bem estar que perdura sempre mais um pouco. Depois de sermos mães, nada perdura. É-nos ensinado que os momentos são para se passarem e se viverem naquele mesmo instante.
Agora, a poucos dias de ser mãe, o sentimento que predomina é de um amor infindável misturado com a maior tristeza e impotência que um ser humano pode sentir. É um grande desafio para a identidade da mulher, principalmente para ela, cujas hormonas traem pensamentos e aniquilam quem somos por muito tempo, sem qualquer possibilidade de defesa. A defesa pode vir do apoio do companheiro, mas que sabemos que nem sempre existe. Ainda não percebi onde a natureza é justa... Porque onde ela é justa, tudo o resto no mundo terreno não o é certamente.
Sentimos o bebé a mexer aqui dentro de nós, sentimos que a nossa vida parou para nos dedicarmos a eles, porque são e vão ser tudo na nossa vida. Mas há uma proposta do universo para nós, muito mais intensa para quem gera um outro ser - conseguir amar sem se apegar a ele! E fazer isso, sabendo que por tantos meses fez parte na nossa carne e misturou a sua alma com a nossa num mesmo corpo.
Já apetece chorar tanto e dizem que o pós-parto é bem pior! Não sei bem como amar o meu bebé à distância daqui para a frente. Porque eu sei que ele em nada me pertence, mas ao mesmo tempo já fomos um só e eu tenho medo de me apegar demais aos sorrisos do meu filho. Viver somente em função disso e que, talvez um dia, até tenha de os ver de longe... Pois nunca saberei o que o destino nos reserva a mim a ao meu bebé. Nunca saberei se um dia a justiça irá tira-lo de mim e entrega-lo ao pai, por coisas banais terrenas como por vezes vemos nas notícias. Por um ter mais dinheiro que o outro ou por ser mais influente e menos sensível, e por isso menos sujeito a depressões e manipulações psicológicas.
Hoje em dia faz-se muito parecer aos olhos dos outros que a sensibilidade extrema é uma depressão que faz de alguém incapaz de ter uma vida estável e tomar conta de um filho. Em vez disso, opta-se por olhar para a estabilidade financeira de alguém e saúde psíquica, mesmo que de laços afectivos com o mundo tenha poucos. (- Resta então definir o que se entende por saúde psíquica...) A criança não tem direito a decidir nada, porque ela escolheria pelo amor e não é isso que se quer, que se pretende que aprendam...
Vemos na TV a toda a hora, pessoas que tão pouco amor mostraram pelos filhos, e depois deles gerados e passados os primeiros anos em que dão trabalho e ninguém os quer, lembrarem-se de que são pais e têm direitos. Os pais têm direito de amar! Nem sequer é dever, é um direito de que muitos nem se apercebem e encaram como dever. O meu coração é triste, porque vejo crianças serem usadas como arma entre os casais para se atingir um ao outro e tenho medo dessa realidade. Se o amor que devia de existir não existe, deixem-se os filhos com quem os gerou e suportou sofrimento por eles. Porque isso é amor no sentido mais puro... Ou então que sejam as crianças a escolher, porque isso une mais do que qualquer lei!
Lembrem-se os tribunais que são estas mesmas crianças que escolhem o ventre de onde vão nascer. Tudo o resto é desequilíbrio provocado.

terça-feira, 17 de março de 2009

Numa de sorrir à toa...

Mais uma vez dei comigo a sorrir às flores, ao sol, às pessoas... Dou comigo muitas vezes a fazer isso, desde que me conheço e em pequenina ainda o fazia mais. É um sorrir silencioso, como que disfarçado, mas que é muito bem percebido no exterior. Porém, noto que sempre que o faço é com uma certa dor por dentro. Uma dor que eu nunca soube de onde vinha. Uma dor que eu me lembro que os meus colegas de escola não pareciam ter quando sorriam. Era como se eles sorrissem de verdade e eu não.
Agora, essa dor ficou ainda maior. Mas é como se eu soubesse que o meu sorrir tem um papel importante. Ele não retira a minha dor, mas alivia-a, pois faz-me arrancar dos outros também os seus sorrisos silenciosos, e aliviar nesse instante a dor deles. É um sorriso que faz as flores sentirem-se úteis e quererem ficar um pouco mais de tempo abertas... E é aquele sorriso que faz o pôr do sol parecer adiar-se, fazendo tempo até ter a certeza que entrou de verdade no meu coração.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Tenhamos motivação para subir torres altas!!

Certo dia, um grupo de sapinhos organizou uma competição.

O objectivo era alcançar o topo de uma torre muito alta. Uma multidão juntou-se em volta da torre para ver a corrida e animar os competidores.

A corrida começou.

Sinceramente ninguém naquela multidão acreditava que sapinhos tão pequenos pudessem chegar ao topo da torre. Eles diziam coisas como: "Oh, é difícil demais! Eles nunca vão conseguir chegar ao topo" ou "Eles não têm nenhuma hipótese de terem sucesso. A torre é muito alta!"

Os sapinhos começaram a cair, um por um. Só alguns continuaram a subir mais e mais alto... A multidão continuava a gritar: "É muito difícil!"

"Ninguém vai conseguir!"

Outros sapinhos cansaram-se e uns desistiram!

Mas um continuou a subir e a subir: Este não desistia!

No final, todos os sapinhos tinham desistido de subir a torre. Com excepção do sapinho que, depois de um grande esforço, foi o único a atingir o topo!

Naturalmente, todos os outros sapinhos queriam saber como ele conseguiu tamanha proeza. Um dos sapinhos perguntou ao campeão como ele conseguiu forças para atingir o objectivo.

E a conclusão foi que o sapinho campeão era SURDO!

A moral desta história é: Nunca dar ouvidos a pessoas que nos possam desencorajar na procura de um sonho. Lembremos sempre do poder das palavras, pois tudo o que ouvimos pode afectar as nossas acções. Acreditemos que somos capazes!! Tenhamos motivação para subir torres altas!!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

"Tudo depende da maneira de dizer as coisas..."


Esta semana andei a pensar que a forma como nos expressamos no presente, pode condicionar o nosso futuro. Desta forma, mesmo que não tenhamos intenção de expressar algo mau, devemos certificar-nos se a nossa verdadeira intenção foi passada. Falar com sabedoria, é deixar a boca falar em último. Fica um exemplo para os mais distraídos...


Uma sábia e conhecida anedota árabe diz que, certa vez, um Sultão sonhou que havia perdido todos os dentes.

Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para que este interpretasse o seu sonho.

- Que desgraça, senhor! Exclamou o adivinho.

- Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade.

- Mas que insolente! - Gritou o Sultão, enfurecido. Como te atreves a dizer-me semelhante coisa? Fora daqui! Chamou os guardas e ordenou que lhe dessem cem açoites.

Mandou que trouxessem outro adivinho e contou-lhe sobre o sonho.

Este, após ouvir o Sultão com atenção, disse-lhe:

- Excelso senhor! Grande felicidade vos está reservada. O sonho significa que haveis de sobreviver a todos os vossos parentes.

A fisionomia do Sultão iluminou-se num sorriso, e ele mandou dar cem moedas de ouro ao segundo adivinho.

E quando este saía do palácio, um dos cortesãos disse-lhe admirado:

- Não é possível! A interpretação que você fez foi a mesma que o seu colega havia feito. Não entendo porque ao primeiro ele pagou com cem açoites e a você com cem moedas de ouro!

- Lembra-te meu amigo - respondeu o adivinho.

"TUDO DEPENDE DA MANEIRA DE DIZER AS COISAS..."

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Sensação de Realeza...

O meu bebé tem-se mexido bastante e hoje fartou-se de dar pontapés! :)
Estou tão feliz!!

Ouvir alguém a dizer, ou ter ideia de que é assim, não é nem de perto parecido ao que se sente por sermos nós a passar pelo momento. É um sentimento com uma força enorme. Quase uma sensação de realeza... Sente-se a divindade a habitar em nós, a fazer o seu milagre e isso é algo realmente único e maravilhoso! Hoje é sem palavras ... :)

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Acerca do Post: Dar entendimento à vida - Chega de Ansiolíticos!

Surgiram comentários acerca do Post em que falo dos Ansiolíticos.

Não o escrevi em tom de crítica a quem toma anti-depressivos. Eu própria vivi à base deles durante quase 7 anos da minha existência. Sei que não é fácil. Eu nunca deixei para viver depois uma emoção e mesmo assim não consegui evitar o pânico, as apneias do sono e por aí..
Sei que nem todas as emoções se conseguem perceber, e sei que há energias em nós que não nos conseguimos livrar assim. Há quem tenha efectivamente de tomar anti-depressivos para conseguir entender primeiro o que tem de vivenciar. Esse tempo em que os tomam também é útil, mas cuidado porque é um tempo perigoso em que não estamos a ser nós mesmos. É preciso ter consciência disso e não ter medo de voltar a caminhar novamente sozinho. Tentar sempre! Eu tentei muitas vezes e na última delas foi possível.
Com o Post pretendi apenas criticar quem se "droga" no dia a dia, mesmo que ainda não esteja a sofrer. Porque é aí que está o problema! Não em quem sofre querer aliviar isso, porque é um direito que tem, um caminho possível, embora sem grande saída. Critico apenas quem ambiciona mais do que o seu corpo permite, para se tonar rentável à sociedade. Ou quem tenta acalmar o corpo sem perceber que tem primeiro de acalmar o ritmo. É a essas pessoas que dirijo o Post. Às que fumam, tomam cafés, estimulantes e depois calmantes para dormir quando ainda podem viver sem isso, bastando moderar os ritmos de vida. Pois a recorrer a pequenas drogas que ajudam o dia a render mais, não se respeitam a elas mesmas e nem a quem toma anti-depressivos e ansiolíticos por não ter grande opção. Porque efectivamente há situações, em que a pessoa chega a um ponto cujas hipóteses de opção são quase nulas. E eu que o diga!

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Mais uma para o Estado da Noção

"Despedimento colectivo numa empresa, cujo patrão tem fortuna avaliada suficiente para pagar salários por cerca de 4000 anos, a esses mesmos empregados que quer despedir."

Eu ouvi hoje um senhor a dizer isto e pensei...

Realmente, porque perdem tanto tempo a perseguir criminosos?
Qual crise!? Crise é nos valores, na continuação da ganância e na aposta das novas tecnologias como substituição do trabalho vindo das mãos do homem. Compram máquinas e despendem pessoas.

Hoje despedes, amanhã vais andar a fugir com medo do povo que tem fome. És um tipo inteligente!!

Enfim, é mais uma para o Estado da Noção!

"Geração apática e sem objectivos, nem ambições"

No outro dia, uma garota de 20 anos dizia-me que é muito ambiciosa e que acha que o que está mal hoje em dia, é que os jovens da idade dela não têm ambição, nem objectivos de vida.

Bom, se pensarmos que o que define uma geração (ou Era) é a maioria das pessoas, e não uma minoria, eu sugeri-lhe que perguntasse a ela mesma porque raio isso está a acontecer. Porque é que as pessoas já não respondem como antes às ambições de outrora. Porque é que temos todos a sensação que os nossos avós foram obrigados a começar a trabalhar desde cedo, por não terem escolha e que, hoje em dia, se calharmos de passar por dificuldades semelhantes, os jovens morrem todos a um canto sem mexer uma palha?! O mundo muda, os genes mudam, as necessidades da alma mudam, porque as almas evoluem, e a mudança ocorre. É normal atravessarmos Eras de mudança, e porquê continuar a achar que é a maioria é que está mal?

Na idade média, homens pegavam em espadas e matavam com elas. Espadas que poucos de nós, humanos de hoje, conseguiam sequer levantar do chão, tal o seu peso. A genética humana mudou! A alma humana evoluiu. A força que antes dominava os guerreiros vinha da sua alma presa ao valor terreno e palpável das coisas.
Hoje nascemos com necessidades diferentes. O Consumo como necessidade sempre houve e chegou à facilidade tal, que já não satisfaz a maioria. Daí que muitos sejam aqueles que cada vez mais não possuem ambição a grandes níveis. Porque sabem que a sua ambição não foi ainda definida. Estamos numa transição de Eras, de tempos. Nesse meio tempo não há clarividência, não há certezas, não há sequer forças para aplicar no que até aqui não compensou. Há apenas a inteligência adequada ao tempo, há a sensação, necessidade de abstracção, de se isolar e tentar perceber que geração vem aí, que Era vem aí, e que foi que mudou no nosso interior, para poder adequar-se ao novo. É uma necessidade intrínseca de qualquer ser humano. É um tempo necessário, uma geração necessária. Toda a geração é necessária!!

Se pensarmos que os nossos avós constituem a geração que detém talvez a maior marca já avaliada da esperança de vida humana, podemos pensar nas suas causas. O que coloca pessoas de uma geração tão sofrida e obrigada sempre a tudo, a morrer tão tarde? O trabalho dá saúde? Também. Mas será só isso? A velhice deles está assim a ser tão serena e compensatória da vida que tiveram? E se pensarmos que lhes foi dado mais tempo de vida, porque precisaram desse tempo para fazer o que não fizeram enquanto jovens, avaliar o que de facto os fazia mexer e trabalhar sem tempo pra pensar em nada mais, em compensações interiores? Que apenas um período de velhice longo, lhes poderia dar a conhecer novos pensamentos sobre a maneira de pensar da época que viveram, que a obrigação estava dentro deles e os impediu de ver motivação, mas apenas uma época de obrigação sem escolhas possíveis. Ninguém quer morrer sem sentir que a vida lhe teve algum amor, sem sentir que teve amor pela vida. Isso faz durar o corpo, porque a alma não está sossegada. Não pode partir ainda.

Talvez por isso eu acredite que existe um motivo para a esperança de vida estar a diminuir, nesta nova geração. Diz-se o contrário, que a ciência evolui. Mas na minha opinião, dificilmente a minha geração chegará aos 90 anos de idade. Terá isso de ser necessariamente um mau sinal? Acho que esta Era de mudança, veio trazer introspecção antes de qualquer acção (ao contrário dos nossos avós) e isso é em tudo uma sabedoria e clarividência que nos permite perceber de amor da vida, de amor à vida sem ter de cá andar 90 anos! Tudo tem a ver com a alma. As que agora surgem, são as que já estiveram cá mais vezes. Logo não vêm apenas viver no sentido básico do termo. Vêm aperfeiçoar aquilo que ficou por fazer noutras vidas.

Vou deixar-vos com uma analogia que gosto muito de usar. Na época dos Descobrimentos, descobriu-se que nem todos os povos dariam bons escravos. Tentaram escravizar os Índios e não o conseguiram. Tentaram e com êxito escravizar o povo africano.
Os Índios eram demasiado frágeis e não aguentavam os castigos severos, morriam facilmente, morriam de desgosto. Os Índios prevervavam a sua liberdade, a sua alma livre e jamais o valor material das coisas. Não tinham como hábito vender-se uns aos outros, vender filhos para terem mais e melhores condições. Terras estéreis como existem em África deram a esse povo um karma terrível. Mas como todos os povos, eles tiveram o seu livre arbítrio e perante ele o seu povo se desuniu, escolheram vender-se uns aos outros. Não sabiam que povos desenvolvidos não iriam valorizar algo que eles próprios não valorizavam. A raiva e apego ao mundo terreno, fazia dos africanos fortes e saudáveis, e logo bons escravos. A sua constituição genética é das mais fortes e saudáveis. Foram vítimas disso, do seu apego aqui ao mundo que não os soube estimar. Jamais ousariam morrer de tristeza, como um índio. Acredito que isto se tivesse passado porque jamais olharam para o que tinham dentro do peito. Aceitaram essa condição sem vivenciar a tristeza, sem criar uma identidade incorruptível de um povo iluminado. A tristeza não era vivida na essência. A tristeza de serem escravizados era transformada em raiva e assim foi passando ao longo dos séculos e permanece ainda a revolta dentro dos seus peitos.

Associo o povo africano aos nossos antepassados, aos nossos avós, fortes e saudáveis, cuja vida lhes foi madrasta, por eles mesmos não se terem permitido senti-la de outra forma. Por mais limitada que nos pareça a vida, nós temos sempre uma escolha! E uma geração toda na sua maioria, é que mostra a escolha feita. Acho que esta geração é uma geração de Indios, que está a fazer uma escolha. A escolher de acordo com a sua liberdade de espírito. A tentar perceber o que não quer. Não sabemos ainda qual é, qual será esse futuro. E se for mesmo a falta de ambição material? Qual é o problema? Pessoas que fazem realmente no peito essa escolha, jamais têm necessidade de ir roubar. São almas de Índios, perfeitamente conscientes das escolhas, perfeitamente inofensivas e pacificadoras. Poderão não sê-lo, se não as deixarem escolher. Têm o direito a isso, a não ser ambiciosas. Aprendamos com a mudança! Aprendamos com a maioria. Porque a mudança está a ocorrer, isso é inegável.

Legalização do Aborto não promove o Aborto - Porquê voltar ao tema?

Atreves-te a julgar porque também te julgam... Mas tu procuras amor, que te compreendam.
Porque não és Deus para julgar alguém pelo que decide fazer a respeito do seu corpo.
Trata-se sim de uma vida humana, desde o primeiro momento. Não é apenas um amontoado de células. É um ser que está ali, uma essência, uma alma que escolheu aquela mãe para vir nascer. Uma experiência que a vida nos propõe, que como qualquer outra podemos escolher não aceitar. Terá implicações próprias ao nível da alma, do nosso inconsciente. Se escolhemos rejeitar, teremos de viver com isso eternamente. Mas que tem a lei e o julgamento público a ver com isso?
É sim uma vida humana, mas trata-se antes disso de uma decisão de compromisso da mulher sobre ser ou não um canal para o desenvolvimento dessa vida e todas as implicações inerentes a isso.
Estou convicta de que a única pena justa será de carácter psicológico e físico, e não moral ou legal.
Ao ser humano foi dado o livre arbítrio, para que possa escolher. É-lhe assim dado o legítimo direito de errar, de procurar bem estar, porque só assim poderá proporcionar bem estar aos outros. É disto que te esqueces quando julgas. Que tu julgas, mas nunca estarás lá para proporcionar bem estar a quem impinges uma escolha! E mesmo que tivesses, não poderias trocar e sentir no seu lugar o desespero e a dor de ter de ser obrigado a algo.
Não se trata assim de uma decisão baseada no egoísmo, mas antes na dignidade humana.
Também não será pela mudança na lei, que passaremos a ver no aborto um método contraceptivo. Quem faz uma vez não faz várias, ao contrário do que se julga. Não é uma decisão fácil de tomar, muito menos deverá ser uma situação fácil de passar. Não basta só tomar uns comprimidos e já está. Há mais protocolos pelos quais passam as mulheres que escolhem fazer um aborto, igualmente dolorosos em todos os sentidos.
Sabemos que nem todas as gravidezes podem ser evitadas. Nem todos os métodos contraceptivos são capazes de garantir segurança total. Nem todas as mulheres engravidam por se sujeitar a tal. E essas têm concerteza uma palavra a dizer! Passar por uma gravidez é um trauma físico, psicológico, e hormonal que requer um grande compromisso para que corra bem. Imaginar quando se trata de uma gravidez não planeada, um não compromisso, é sem dúvida algo muito difícil de explicar. Pessoas que sabem o que isso é, e ainda assim desejam o mesmo a outras têm uma grande falta de amor da vida para com elas. Têm o coração cheio de ressentimento e triste.
Quando uma mulher não se sente praparada para ter um filho, não tem condições, não tem apoio, nem afectos. Alguém a está a julgar sabendo o que isso é, realmente? Quem sabe que não pode garantir apoio a essa mulher por toda a sua vida, percebe aí a razão pela qual não deve julgá-la. Não se vem ao mundo para se ser mártir! Vem-se ao mundo para se ser feliz, fazer outros felizes, assumindo responsabilidade e consequências dos seus actos. Dos SEUS actos e não dos actos que outros ou a lei obrigam. Leis feitas por homens.

Fui a favor da despenalização do Aborto na medida em que acredito que ninguém deve ser obrigado a perder o controlo da sua própria vida, do seu corpo. Isso só gerará mais descontrolo! Obrigar a mulher que não quer ser mãe a sê-lo, é encerrá-la numa condição de mártir e isso não é fazer valer o direito à vida, mas é roubar o direito à qualidade de vida, tanto da mãe como do filho.

Aos homens digo que os mais sensatos sabem que têm direito a uma opinião, mas que jamais saberão realmente do que trata esta matéria. Sabem que havendo o voto, pertence a elas. Sabem que por mais presente que um pai esteja na gestação de um filho, será sempre uma aventura somente vivida pela mulher. E a esses o meu obrigado por terem votado Sim. Ainda estamos num mundo de homens, mas este passo foi claramente um passo à frente na evolução dos tempos!
Quando o Aborto foi finalmente despenalizado e eu tive orgulho do meu país!

Porque me fui lembrar deste tema agora?

Porque justamente agora eu estou a passar por uma gravidez não planeada e não desejada. E quero com isto dizer que posso garantir que não é o facto de algo deixar de ser considerado crime que vai passar a ocorrer mais vezes. A despenalização não promove o aborto, nem o torna numa decisão fácil. A prova disso está aqui! Ainda que com a lei a proteger-me, eu não fui capaz de passar pelo trauma de um aborto. Ainda que não preparada e pouco apoiada, escolhi passar antes pelo trauma da gravidez. E tal como se previa está a ser uma gravidez complicada, ao nível da saúde. Talvez até porque eu ainda não tenha digerido bem o meu papel de mártir. E fui eu que escolhi esse papel! Não quero pensar então se tivesse sido legalmente obrigada a escolhê-lo!
Escolhi ter o meu bebé e apesar de estar a ser muito difícil, nunca me arrependi. São opções! Assim como seria igualmente uma opção digna de respeito se eu tivesse decidido pelo contrário.

A todas as mulheres que com sofrimento escolheram abortar, o meu respeito e carinho.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Dar entendimento à vida - chega de ansioliticos!

Dar entendimento à vida é muito mais do que sair de casa de manhã, ir trabalhar, para depois voltar à noite e repetir tudo até à Reforma. É mais do que casar-se para repartir tarefas e ter memórias de um dia ou dois bonito, lá no passado. É mais do que entregar os filhos numa cresce e sentir que eles são o nosso grande contributo para o mundo. Dito assim, parece ser um modo demasiado redutor de colocar o nosso dia-a-dia. Mas a não ser mesmo assim, seria mesmo tão necessário que vivêssemos desde tão cedo rodeados de estimulantes, calmantes e suplementos vitamínicos?
A grande prova que a vida nos dá, de que ela existe só para nosso benefício próprio, é que tudo se direcciona pelo melhor caminho para nós. A verdade é que o nosso organismo dá-nos os sinais que precisamos para ter uma vida mais ou menos sã, naquilo que nos cabe a nós controlar. E nós continuamos a achar que podemos controlar, ainda que desrespeitemos o organismo. Como?

O corpo dá-nos dor quando algo está mal, quando estamos doentes. E nós tomamos analgésicos para aliviar a dor, mas queremos sempre saber porque é que ela surgiu. Sempre vamos querer saber o que está de errado, já que o corpo se queixou e nos fez sentir dor. Dessa forma partimos para a cura e evitamos mais dor. Acontece que o mesmo se passa ao nível da nossa carga energética (ou chamem-lhe psique, ou alma).
Tal como o que acontece na dimensão corporal, quando começamos a sentir cansaço, fadiga ou sistema nervoso alterado, tudo isso não passam de sinais da nossa carga energética a dar o alarme para mudarmos ritmos e padrões de vida, sob pena de um colapso maior e irreversível.
Agora pergunto, esses sinais são valorizados? Será que a resposta a essa valorização está no dia em que inventaram estimulantes e calmantes e baterias tipo "piloto automático" (diga-se do efeito do medicamento anti-depressivo)?
A resposta é tão simples que pode ser entendida ao nível do corpo, mas quase nunca o é, quando se trata da carga energética que o move. A falta de respeito por ela é completamente posta em prática, a partir do momento em que aceitamos ignorar sinais dos riscos que estamos a correr. Assumimos inteira responsabilidade pela vida que estamos a ter, mas jamais ousemos culpá-la a ela.
Tal como disse em cima, a vida direcciona-nos para o nosso melhor caminho, o mais saudável de todos. Não tem culpa que ignoremos sinais, só porque toda a prática social nos incita a isso. O livre arbítrio é a mão da verdadeira justiça. É nele que traçamos o caminho. E eu gostava tanto que fosse aquele caminho em que não precisamos de medicamentos, se não aceitarmos primeiro "curar a doença", mudar padrões, olhar pra dentro de nós.

Todos nós já tivemos estímulos quando havia motivos para tê-los. Todos nós sentimos calma, quando a nossa consciência operava a um ritmo saudável e próprio de um humano. Então para quê tanta procura de drogas para esses fins? Nós nunca fomos sobrenaturais nem sentimos tanta vontade de o ser, como agora. Mas será que isso vale a pena a nossa vida, e qualidade de vida? Vale a pena andar mais depressa do que a vida propõe, ou mais devagar do que é suposto, conforme convém ao social colectivo (ainda achando que é realmente a nós que convém)?
A nós convém é ter saúde! Até porque o social colectivo não vai querer saber de nós quando já não a tivermos. Deixamos de ser úteis. Sim, usam-nos!!
Acho que ainda é preciso tomar consciência que não somos controladores da nossa vida! Apenas nos cabe seguir as indicações que todos os dias nos são dadas, e que todos os dias decidimos ignorar. Pena será para uns, felicidade para outros. Tudo é livre arbítrio e auto-conhecimento, e nunca, mesmo nunca foi uso de drogas de qualquer espécie.

Viver é experimentar emoções que nos permitam evoluir e crescer em todos os sentidos. Se nos bloquearem sensações ou emoções com drogas controladoras de mecanismos energéticos, que será então da nossa vivência? Que será, senão sair de casa de manhã, ir trabalhar, para depois voltar à noite e repetir tudo até à Reforma.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Um dos meus preferidos da Florbela...

O QUE ALGUÉM DISSE

"Refugia-te na Arte" diz-me Alguém

"Eleva-te num voo espiritual,

Esquece o teu amor, ri do teu mal,
Olhando-te a ti própria com desdém.

Só é grande e perfeito o que nos vem
Do que em nós é Divino e imortal!
Cega de luz e tonta de ideal

Busca em ti a Verdade e em mais ninguém!"

No poente doirado como a chama
Estas palavras morrem... E n´Aquele
Que é triste, como eu, fico a pensar...

O poente tem alma: sente e ama!
E, porque o sol é cor dos olhos d´Ele,
Eu fico olhando o sol, a soluçar...

Florbela Espanca

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Sentirmo-nos sozinhos tem as suas utilidades...

Quase toda a gente que me conhece acha estranho que eu tenha poucos amigos. "Porquê, se sou tão simpática!?". No entanto por vezes queixo-me disso, e continuam a questionar-me... "Eu quero ser teu amigo, e tu não deixas!". Ora, a amizade a meu ver já existe sem que nós a permitamos "entrar". Dessa forma, quem acredita mesmo ser meu amigo, já o é! Não precisa de se forçar entrar em circunstância nenhuma, porque já coabita um universo mágico comigo se realmente estiver atento. Até porque eu não me queixo de falta de pessoas a quererem ser minhas amigas. Eu queixo-me é da força com que impõem a sua individualidade na amizade, esquecendo que amizade existe para se curtir ser um pouco do outro, enquanto o outro é um pouco de nós. Partilha de experiências e não competição de estilos! Então é natural que por vezes mesmo me sentindo sozinha eu prefira ficar no meu canto, como que aceitando uma solidão que não mereço. E hoje decidi explicar-vos porquê...

É espantoso como certas pessoas que passam pela tua vida vêm apenas fazer-te aprender qualquer coisa, sem com isso terem de permanecer. Quem não sentiu já isto? De repente parece que ficaste acompanhado. As pessoas chegam e dão-te um conselho, impõem-te a sua verdade, tanto que por vezes tu até acreditas ser um sábio que ali está. Acreditas que ele não veio para se ir logo embora a seguir. Há sempre qualquer coisa de químico entre vós. E até ouves o que ele tem a dizer, valorizas os seus pontos de vista. Pensas: "Meu Deus, se perante tanta solidão alguém apareceu e me dá um conselho é sinal que devo ouvir. Devo deixar de pensar em mim e sentir-me feliz porque tenho alguém a preocupar-se em que eu seja feliz. Devo ignorar o que eu penso e que só me trouxe solidão e fingir que os pensamentos dele são os meus."
E depois adoptas o seu estilo de pensamento. Mas não adoptas só isso, adoptas inevitavelmente um apego a essa pessoa. E de repente a vida leva-a. Dá-lhe um rumo e ele escolhe segui-lo porque ao contrário de ti, ele ouve-se somente a si próprio. E para isso, para seguir o seu rumo ele tem de sair da tua vida. Estás agora de novo sozinho, mas ainda mais sozinho! Porque adoptaste uma identidade que não era tua, só para te chegares mais perto do outro. Agora és sozinho e sem identidade.

Resumindo, as pessoas que impõem uma identidade procuram estar com outras que também tenham a própria identidade. É por isso que muitas vezes podendo estar acompanhada, eu prefiro ficar sozinha a curtir a minha própria identidade. E depois sim, vou beber um café com alguém, quando já não me estiver a sentir tão sozinha.
Isto, porque mesmo que seja para te gozarem depois, tu só terás valor para os outros e para ti, se souberes e te assumires como és. Porque quem te dita o modo como deves ser, amanhã já não estará mais aí quando voltares a precisar de uma direcção. Sê tu próprio em qualquer ocasião!

"A solidão não existe. O que existe é o Universo a retirar todas as pessoas do teu caminho para definitivamente te encontrares com o teu interior. O retorno ao ambiente mágico do teu interior. E esse ambiente, quanto mais vivido for, mais mágico se torna."

A Alma Iluminada, Alexandra Solnado

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Aprendendo a maternidade...


Numa sociedade preocupada com a melhor maneira de educar uma criança descobri a necessidade de misturar o que é melhor para o meu filho com o que é necessário para uma mãe bem equilibrada. Reconheço que o dar interminável se traduz em esgotar-se a dar. E quando se esgota a dar, não é uma mãe saudável e não é um eu saudável.
Por isso, estou a aprender a ser mulher em primeiro lugar e mãe em segundo. Estou a aprender a sentir apenas as minhas próprias emoções sem roubar ao meu filho a sua dignidade individual por sentir também as suas emoções. Estou a aprender que uma criança saudável tem o seu próprio conjunto de emoções e características que são só suas. E muito diferentes das minhas.
Estou a aprender a importância de trocas honestas de sentimentos porque o fingimento não engana as crianças. Conhecem a mãe melhor do que ela se conhece a si própria.

Estou a aprender que ninguém ultrapassa o seu passado a menos que se confronte com ele. Caso contrário os filhos absorverão exactamente o que ela está a tentar ultrapassar. Estou a aprender que as palavras de sabedoria caem em ouvidos surdos se as minhas acções contradisserem os meus actos. As crianças tendem a ser melhores imitadoras que ouvintes.
Estou a aprender que a vida se destina a ser preenchida com tanta tristeza e dor como alegria e prazer. E permitirmo-nos sentir tudo o que a vida tem para oferecer é um indicador de realização.
Estou a aprender que a realização não pode ser atingida por me esgotar a dar-me mas dando a mim própria e partilhando com outros.
Estou a aprender que a melhor maneira de ensinar o meu filho a viver uma vida preenchida não é sacrificando a minha vida. É vivendo eu própria uma vida preenchida.
Estou a tentar ensinar ao meu filho que tenho muito que aprender. Porque estou a aprender que libertá-lo é a melhor forma de continuarmos ligados.

Nancy McBrine Sheehan*


* Retirado do Livro “Corpo de Mulher, Sabedoria de Mulher” de Christiane Northrup

Finalmente em filme!

Depois de me debater com muitas mães e grávidas, sobre as duvidosas mudanças que ocorreram nos diversos procedimentos usados à volta da gravidez e do nascimento nos últimos anos, surge finalmente uma resposta à medida.

“Pregnant in América” (Grávida na América) analisa a traição da maior dádiva da humanidade – o nascimento – por parte das corporações norte-americanas. Hospitais, companhias de seguros e outras entidades da indústria de cuidados de saúde, todas puseram de parte os melhores cuidados de saúde para com crianças e mães, para entrar no jogo do máximo lucro.
Com a sua esposa grávida, o sociólogo, professor e principiante cineasta Steve Buonaugurio lança-se na criação de um filme que irá expor a face obscura da indústria norte-americana à volta do nascimento (que como todos sabemos, dita a tendência global) e ajudar a terminar a prejudicial exploração que fomenta sobre a gravidez e o parto.
in doulasdeportugal.blogspot.com

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O Estado da Noção

Isto vem a propósito de eu já estar um bocadinho farta daquele pessoal que acha que se fica adulto e consciente só porque se conseguiu arranjar um emprego estável, e que o mundo se divide entre duas partes, os empregados que pagam os subsídios de desemprego aos outros e os desempregados que vivem no mundo da lua e "não querem trabalhar".
No meu entender só existe uma riqueza a ser trabalhada, a espiritual. E acredito que só existe um modo de sermos adultos e verdadeiramente preparados para a vida. Basta nunca ter essa noção enganosa de que já o somos. Em vez disso, concentrar-se mais na ideia de que ser uma pessoa preparada para a vida é ter ginástica mental para pensar segundo diversos pontos de vista e não apenas um. Uma pessoa preparada para a vida passa mais por ser aquela com capacidade de se adaptar a qualquer tipo de realidade mediante uma possível mudança. Porque crescer é um conceito bem mais abrangente do que o que se apregoa.
Por isso diria que alguém que está preparado para a vida nunca dá conselhos, simplesmente escreve poemas para quem os quiser ler. Porque dar conselhos se também não se é feliz, de nada serve. E há por aí demasiada gente a fazê-lo porque acham que quem "vive no mundo da lua" não é feliz e precisa de orientação.
Alguém que está preparado para a vida, não evita ver a realidade como ela é só por querer ser optimista, mas procura ser optimista dentro da sua noção própria dessa realidade. Se calhar é pessoa para pensar que a crise actual não é um fenómeno de recessão, trata-se da máquina a substituir o Homem e por isso não tenderá a diminuir só porque se pensa que é uma situação passageira.
Alguém preparado para a vida, pensa que se a crise vem para ficar, então ele próprio tem de estar preparado para a mudança. Para aprender a viver com menos recursos e de acordo com aquilo que produz. Não simplesmente a arranjar um emprego porque precisa de se tornar num consumista para esquecer a crise, e depois olhar de lado a maioria que não tem nem emprego, nem vício de consumo. Porque quando forem os desempregados a maioria, por algum motivo será, caros colegas doutores! E depois a desordem e o caos será geral, com emprego ou não estamos todos na mesma selva de sobrevivência. Então se calhar, o melhor é contentar-se em ir tendo um emprego e não achar que já se sabe tudo só por causa disso. Porque para apenas um dos srs. doutores ter trabalho, umas boas dezenas não têm.

Para ser grande, sê inteiro: nada

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa / Ricardo Reis