quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Um dos meus preferidos da Florbela...

O QUE ALGUÉM DISSE

"Refugia-te na Arte" diz-me Alguém

"Eleva-te num voo espiritual,

Esquece o teu amor, ri do teu mal,
Olhando-te a ti própria com desdém.

Só é grande e perfeito o que nos vem
Do que em nós é Divino e imortal!
Cega de luz e tonta de ideal

Busca em ti a Verdade e em mais ninguém!"

No poente doirado como a chama
Estas palavras morrem... E n´Aquele
Que é triste, como eu, fico a pensar...

O poente tem alma: sente e ama!
E, porque o sol é cor dos olhos d´Ele,
Eu fico olhando o sol, a soluçar...

Florbela Espanca

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Sentirmo-nos sozinhos tem as suas utilidades...

Quase toda a gente que me conhece acha estranho que eu tenha poucos amigos. "Porquê, se sou tão simpática!?". No entanto por vezes queixo-me disso, e continuam a questionar-me... "Eu quero ser teu amigo, e tu não deixas!". Ora, a amizade a meu ver já existe sem que nós a permitamos "entrar". Dessa forma, quem acredita mesmo ser meu amigo, já o é! Não precisa de se forçar entrar em circunstância nenhuma, porque já coabita um universo mágico comigo se realmente estiver atento. Até porque eu não me queixo de falta de pessoas a quererem ser minhas amigas. Eu queixo-me é da força com que impõem a sua individualidade na amizade, esquecendo que amizade existe para se curtir ser um pouco do outro, enquanto o outro é um pouco de nós. Partilha de experiências e não competição de estilos! Então é natural que por vezes mesmo me sentindo sozinha eu prefira ficar no meu canto, como que aceitando uma solidão que não mereço. E hoje decidi explicar-vos porquê...

É espantoso como certas pessoas que passam pela tua vida vêm apenas fazer-te aprender qualquer coisa, sem com isso terem de permanecer. Quem não sentiu já isto? De repente parece que ficaste acompanhado. As pessoas chegam e dão-te um conselho, impõem-te a sua verdade, tanto que por vezes tu até acreditas ser um sábio que ali está. Acreditas que ele não veio para se ir logo embora a seguir. Há sempre qualquer coisa de químico entre vós. E até ouves o que ele tem a dizer, valorizas os seus pontos de vista. Pensas: "Meu Deus, se perante tanta solidão alguém apareceu e me dá um conselho é sinal que devo ouvir. Devo deixar de pensar em mim e sentir-me feliz porque tenho alguém a preocupar-se em que eu seja feliz. Devo ignorar o que eu penso e que só me trouxe solidão e fingir que os pensamentos dele são os meus."
E depois adoptas o seu estilo de pensamento. Mas não adoptas só isso, adoptas inevitavelmente um apego a essa pessoa. E de repente a vida leva-a. Dá-lhe um rumo e ele escolhe segui-lo porque ao contrário de ti, ele ouve-se somente a si próprio. E para isso, para seguir o seu rumo ele tem de sair da tua vida. Estás agora de novo sozinho, mas ainda mais sozinho! Porque adoptaste uma identidade que não era tua, só para te chegares mais perto do outro. Agora és sozinho e sem identidade.

Resumindo, as pessoas que impõem uma identidade procuram estar com outras que também tenham a própria identidade. É por isso que muitas vezes podendo estar acompanhada, eu prefiro ficar sozinha a curtir a minha própria identidade. E depois sim, vou beber um café com alguém, quando já não me estiver a sentir tão sozinha.
Isto, porque mesmo que seja para te gozarem depois, tu só terás valor para os outros e para ti, se souberes e te assumires como és. Porque quem te dita o modo como deves ser, amanhã já não estará mais aí quando voltares a precisar de uma direcção. Sê tu próprio em qualquer ocasião!

"A solidão não existe. O que existe é o Universo a retirar todas as pessoas do teu caminho para definitivamente te encontrares com o teu interior. O retorno ao ambiente mágico do teu interior. E esse ambiente, quanto mais vivido for, mais mágico se torna."

A Alma Iluminada, Alexandra Solnado

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Aprendendo a maternidade...


Numa sociedade preocupada com a melhor maneira de educar uma criança descobri a necessidade de misturar o que é melhor para o meu filho com o que é necessário para uma mãe bem equilibrada. Reconheço que o dar interminável se traduz em esgotar-se a dar. E quando se esgota a dar, não é uma mãe saudável e não é um eu saudável.
Por isso, estou a aprender a ser mulher em primeiro lugar e mãe em segundo. Estou a aprender a sentir apenas as minhas próprias emoções sem roubar ao meu filho a sua dignidade individual por sentir também as suas emoções. Estou a aprender que uma criança saudável tem o seu próprio conjunto de emoções e características que são só suas. E muito diferentes das minhas.
Estou a aprender a importância de trocas honestas de sentimentos porque o fingimento não engana as crianças. Conhecem a mãe melhor do que ela se conhece a si própria.

Estou a aprender que ninguém ultrapassa o seu passado a menos que se confronte com ele. Caso contrário os filhos absorverão exactamente o que ela está a tentar ultrapassar. Estou a aprender que as palavras de sabedoria caem em ouvidos surdos se as minhas acções contradisserem os meus actos. As crianças tendem a ser melhores imitadoras que ouvintes.
Estou a aprender que a vida se destina a ser preenchida com tanta tristeza e dor como alegria e prazer. E permitirmo-nos sentir tudo o que a vida tem para oferecer é um indicador de realização.
Estou a aprender que a realização não pode ser atingida por me esgotar a dar-me mas dando a mim própria e partilhando com outros.
Estou a aprender que a melhor maneira de ensinar o meu filho a viver uma vida preenchida não é sacrificando a minha vida. É vivendo eu própria uma vida preenchida.
Estou a tentar ensinar ao meu filho que tenho muito que aprender. Porque estou a aprender que libertá-lo é a melhor forma de continuarmos ligados.

Nancy McBrine Sheehan*


* Retirado do Livro “Corpo de Mulher, Sabedoria de Mulher” de Christiane Northrup

Finalmente em filme!

Depois de me debater com muitas mães e grávidas, sobre as duvidosas mudanças que ocorreram nos diversos procedimentos usados à volta da gravidez e do nascimento nos últimos anos, surge finalmente uma resposta à medida.

“Pregnant in América” (Grávida na América) analisa a traição da maior dádiva da humanidade – o nascimento – por parte das corporações norte-americanas. Hospitais, companhias de seguros e outras entidades da indústria de cuidados de saúde, todas puseram de parte os melhores cuidados de saúde para com crianças e mães, para entrar no jogo do máximo lucro.
Com a sua esposa grávida, o sociólogo, professor e principiante cineasta Steve Buonaugurio lança-se na criação de um filme que irá expor a face obscura da indústria norte-americana à volta do nascimento (que como todos sabemos, dita a tendência global) e ajudar a terminar a prejudicial exploração que fomenta sobre a gravidez e o parto.
in doulasdeportugal.blogspot.com

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O Estado da Noção

Isto vem a propósito de eu já estar um bocadinho farta daquele pessoal que acha que se fica adulto e consciente só porque se conseguiu arranjar um emprego estável, e que o mundo se divide entre duas partes, os empregados que pagam os subsídios de desemprego aos outros e os desempregados que vivem no mundo da lua e "não querem trabalhar".
No meu entender só existe uma riqueza a ser trabalhada, a espiritual. E acredito que só existe um modo de sermos adultos e verdadeiramente preparados para a vida. Basta nunca ter essa noção enganosa de que já o somos. Em vez disso, concentrar-se mais na ideia de que ser uma pessoa preparada para a vida é ter ginástica mental para pensar segundo diversos pontos de vista e não apenas um. Uma pessoa preparada para a vida passa mais por ser aquela com capacidade de se adaptar a qualquer tipo de realidade mediante uma possível mudança. Porque crescer é um conceito bem mais abrangente do que o que se apregoa.
Por isso diria que alguém que está preparado para a vida nunca dá conselhos, simplesmente escreve poemas para quem os quiser ler. Porque dar conselhos se também não se é feliz, de nada serve. E há por aí demasiada gente a fazê-lo porque acham que quem "vive no mundo da lua" não é feliz e precisa de orientação.
Alguém que está preparado para a vida, não evita ver a realidade como ela é só por querer ser optimista, mas procura ser optimista dentro da sua noção própria dessa realidade. Se calhar é pessoa para pensar que a crise actual não é um fenómeno de recessão, trata-se da máquina a substituir o Homem e por isso não tenderá a diminuir só porque se pensa que é uma situação passageira.
Alguém preparado para a vida, pensa que se a crise vem para ficar, então ele próprio tem de estar preparado para a mudança. Para aprender a viver com menos recursos e de acordo com aquilo que produz. Não simplesmente a arranjar um emprego porque precisa de se tornar num consumista para esquecer a crise, e depois olhar de lado a maioria que não tem nem emprego, nem vício de consumo. Porque quando forem os desempregados a maioria, por algum motivo será, caros colegas doutores! E depois a desordem e o caos será geral, com emprego ou não estamos todos na mesma selva de sobrevivência. Então se calhar, o melhor é contentar-se em ir tendo um emprego e não achar que já se sabe tudo só por causa disso. Porque para apenas um dos srs. doutores ter trabalho, umas boas dezenas não têm.

Para ser grande, sê inteiro: nada

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Fernando Pessoa / Ricardo Reis