sábado, 7 de fevereiro de 2009

Legalização do Aborto não promove o Aborto - Porquê voltar ao tema?

Atreves-te a julgar porque também te julgam... Mas tu procuras amor, que te compreendam.
Porque não és Deus para julgar alguém pelo que decide fazer a respeito do seu corpo.
Trata-se sim de uma vida humana, desde o primeiro momento. Não é apenas um amontoado de células. É um ser que está ali, uma essência, uma alma que escolheu aquela mãe para vir nascer. Uma experiência que a vida nos propõe, que como qualquer outra podemos escolher não aceitar. Terá implicações próprias ao nível da alma, do nosso inconsciente. Se escolhemos rejeitar, teremos de viver com isso eternamente. Mas que tem a lei e o julgamento público a ver com isso?
É sim uma vida humana, mas trata-se antes disso de uma decisão de compromisso da mulher sobre ser ou não um canal para o desenvolvimento dessa vida e todas as implicações inerentes a isso.
Estou convicta de que a única pena justa será de carácter psicológico e físico, e não moral ou legal.
Ao ser humano foi dado o livre arbítrio, para que possa escolher. É-lhe assim dado o legítimo direito de errar, de procurar bem estar, porque só assim poderá proporcionar bem estar aos outros. É disto que te esqueces quando julgas. Que tu julgas, mas nunca estarás lá para proporcionar bem estar a quem impinges uma escolha! E mesmo que tivesses, não poderias trocar e sentir no seu lugar o desespero e a dor de ter de ser obrigado a algo.
Não se trata assim de uma decisão baseada no egoísmo, mas antes na dignidade humana.
Também não será pela mudança na lei, que passaremos a ver no aborto um método contraceptivo. Quem faz uma vez não faz várias, ao contrário do que se julga. Não é uma decisão fácil de tomar, muito menos deverá ser uma situação fácil de passar. Não basta só tomar uns comprimidos e já está. Há mais protocolos pelos quais passam as mulheres que escolhem fazer um aborto, igualmente dolorosos em todos os sentidos.
Sabemos que nem todas as gravidezes podem ser evitadas. Nem todos os métodos contraceptivos são capazes de garantir segurança total. Nem todas as mulheres engravidam por se sujeitar a tal. E essas têm concerteza uma palavra a dizer! Passar por uma gravidez é um trauma físico, psicológico, e hormonal que requer um grande compromisso para que corra bem. Imaginar quando se trata de uma gravidez não planeada, um não compromisso, é sem dúvida algo muito difícil de explicar. Pessoas que sabem o que isso é, e ainda assim desejam o mesmo a outras têm uma grande falta de amor da vida para com elas. Têm o coração cheio de ressentimento e triste.
Quando uma mulher não se sente praparada para ter um filho, não tem condições, não tem apoio, nem afectos. Alguém a está a julgar sabendo o que isso é, realmente? Quem sabe que não pode garantir apoio a essa mulher por toda a sua vida, percebe aí a razão pela qual não deve julgá-la. Não se vem ao mundo para se ser mártir! Vem-se ao mundo para se ser feliz, fazer outros felizes, assumindo responsabilidade e consequências dos seus actos. Dos SEUS actos e não dos actos que outros ou a lei obrigam. Leis feitas por homens.

Fui a favor da despenalização do Aborto na medida em que acredito que ninguém deve ser obrigado a perder o controlo da sua própria vida, do seu corpo. Isso só gerará mais descontrolo! Obrigar a mulher que não quer ser mãe a sê-lo, é encerrá-la numa condição de mártir e isso não é fazer valer o direito à vida, mas é roubar o direito à qualidade de vida, tanto da mãe como do filho.

Aos homens digo que os mais sensatos sabem que têm direito a uma opinião, mas que jamais saberão realmente do que trata esta matéria. Sabem que havendo o voto, pertence a elas. Sabem que por mais presente que um pai esteja na gestação de um filho, será sempre uma aventura somente vivida pela mulher. E a esses o meu obrigado por terem votado Sim. Ainda estamos num mundo de homens, mas este passo foi claramente um passo à frente na evolução dos tempos!
Quando o Aborto foi finalmente despenalizado e eu tive orgulho do meu país!

Porque me fui lembrar deste tema agora?

Porque justamente agora eu estou a passar por uma gravidez não planeada e não desejada. E quero com isto dizer que posso garantir que não é o facto de algo deixar de ser considerado crime que vai passar a ocorrer mais vezes. A despenalização não promove o aborto, nem o torna numa decisão fácil. A prova disso está aqui! Ainda que com a lei a proteger-me, eu não fui capaz de passar pelo trauma de um aborto. Ainda que não preparada e pouco apoiada, escolhi passar antes pelo trauma da gravidez. E tal como se previa está a ser uma gravidez complicada, ao nível da saúde. Talvez até porque eu ainda não tenha digerido bem o meu papel de mártir. E fui eu que escolhi esse papel! Não quero pensar então se tivesse sido legalmente obrigada a escolhê-lo!
Escolhi ter o meu bebé e apesar de estar a ser muito difícil, nunca me arrependi. São opções! Assim como seria igualmente uma opção digna de respeito se eu tivesse decidido pelo contrário.

A todas as mulheres que com sofrimento escolheram abortar, o meu respeito e carinho.

4 comentários:

  1. Adorei a forma como desenvolveste este tema. Parabens pela tua atitude :') , e muita FORÇA.
    ^^

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  2. Fantástico! ainda bem que existem mulheres que pensam como tu, o que faz delas melhores pessoas! Fiquei impressionada...

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  3. Obrigado pela força Sorriso Secreto. Obrigado Branca de Neve! Beijinhos

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  4. Amiga, gostei muito de ler este texto embora n seja novidade para mim. :)
    Sabes que podes contar comigo. E o meu sobrinho também! :P

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